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sexta-feira, 30 de junho de 2017

O homem que não quis me amar

Passa um pouco das quatro horas, recebo  uma mensagem no celular. Vem de meu filho informando que seu avô materno faleceu. Seu choro, sua tristeza me comovem e ponho-me a escrever.

Certa vez li que nossos ancestrais são uma barreira entre nós e a morte, logo quando estes desaparecem nos vemos cada vez mais próximos de nosso destino final. Talvez por isso uma perda nos induza a tantas reflexões e análises sobre a nossa condição humana. Eu posso dizer sobre isso, uma vez que em minha família a linha de frente sou eu.

Pois bem; o que documentar aqui a respeito desta passagem. Esta pessoa foi meu sogro por vinte e seis anos, entrei em sua vida para roubar-lhe uma de suas filhas e talvez por isso ele não tenha tido muito afeto a mim. Não torcíamos nem para o mesmo time. Na realidade tivemos pouca afinidade afora alguns passeios de moto e algumas pescarias, contudo sempre observei características marcantes em sua personalidade.

Foi uma das pessoas mais realizadoras dentre as suas possibilidades que conheci. Fez muito para sua classe profissional em detrimento até da sua própria carreira. Tinha uma paixão extrema por ferramentas e traquitanas, o que aliás passou geneticamente para meu filho. Dava jeito para qualquer problema, até mesmo quando lhe faltava recursos encontrava uma solução para seus problemas técnicos nem que para isso precisasse recorrer a um ridículo Durepoxi, massa adesiva que lhe valeu o apelido caseiro de Doutor Durepoxi. Dono da expressão "Espetáculo" que utilizava quando alguma coisa lhe agradava.
Teve muita sorte ao sofrer um enfarto quando estava nos confins dos Estado Unidos e de lá voltou safenado e curado sem ter sequer um plano de saúde ou seguro, fato que me fez sugerir que ele nasceu duas vezes. Uma no Brasil e outra na América. Uma doce irresponsabilidade.

Dizem que só podemos avaliar as relações quando temos oportunidade de compará-las. Hoje, em minha segunda relação, tenho um sogro que amo como a um pai tamanha nossa afinidade. Comparando minha relação com ambos posso concluir que desaparece hoje o homem que não quis me amar.
Para meu filho fica a lição da passagem, o rito de enterrar nossos ancestrais e que a vida se renova em novas gerações como a de meu neto que vem aí. E assim na escala natural da existência nos colocamos na linha de frente até o nosso dia chegar.


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