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quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Um breve ensaio sobre a beleza,ou sobre a feiura

Nasci no apagar das luzes da década de cincoenta. o que me causa certa indecisão, não me sinto contemporâneo dessa década e sim da década seguinte; a de sessenta. Pequeno trauma de berço.
Filho de imigrantes do sul da Itália,  região que foi sitiada e ocupada por povos árabes após o império romano cair por aproximadamente quatro séculos. Entendam que apesar de europeu, trago na genética sangue e os genes dos povos do oriente médio. "Alah ak bar".
Tento entender um pouco dos meu traços faciais então. Sim! Temos narizes avantajados e aduncos na linhagem.

Uma das primeiras coisas que observo nas primeiras fotos de minha infância são as orelhas, desproporcionais e de abano. Tudo bem. Segundo alguns estudiosos as orelhas já nascem no tamanho quase adulto. Portanto, meu corpo teve que desenvolver-se em torno delas para amenizar a desproporção.
Com três anos de idade meus pais notaram que tinha dificuldade em enxergar certas coisas, até hoje procuro enxergar apenas aquilo que me convém, mas não propriamente isso. Eram os sinais da hipermetropia e do estrabismo que estavam surgindo. Pense então como era corrigir um problema ótico neste tempo. Passei a usar óculos com grossas lentes de cristal que pesavam pra kct e de alguma forma ajudou a moldar minha feição.

Toda pessoa faz a troca da dentição até próximo de seus quatorze anos. Eu ainda não encerrei a minha, pois ainda trago um dente de leite que tornou-se responsável por todo posicionamento final de minha dentição adulta. Se olhar bem nota o desvio.
Ainda criança, lá pelos seis anos comecei a ganhar peso, problema que me acompanhou até os quarenta e cinco anos. Gordinho, criança, parece bonito, só que não. Tinha a coxas grossas e numa época em que as mulheres mostravam suas pernas nas minissaias a comparação era inevitável o que me deixava muito puto mesmo.

Passada a  infância, veio a adolescência. Foi quando conheci uma coisa chamada dieta, e por várias vezes fui magro, à custa de muita boleta receitada por um "milagroso" médico argentino que manipulava as drogas emagrecedoras.
Magro, cheio de testosterona, vamos às mulheres. Os beijos, os amassos, a vontade da primeira relação e lá fui eu para a faca corrigir a fimose. Depois dela foi o arraso (nem tanto). 
No colégio veio a moda de repartir o  cabelo ao meio. Eu, quando tinha cabelos, tinha um roda moinho bem na frente da testa, então, nas fotos dessa época apareço de cabelo repartido ao meio com uma lambida de vaca na frente. Coisas de adolescente.

Com dezoito anos comecei a namorar com aquela que veio a ser a mãe de meus filhos. Beleza não se mede, mas não posso reclamar, tive uma bela loira a meu lado. Apenas bela, no mais... Alguma coisa ela deve ter enxergado em mim para me escolher entre os  meninos do clube.

Casado, pai de dois filhos, trabalhando um monte, no início da fase adulta não deu para me preocupar muito com a beleza ou com a feiura. Apenas fui vivendo.
Como tudo na vida pelo que optamos pagamos um preço, a idade veio chegando e com ela os problemas decorrentes. Aos vinte e sete anos, tomava sol na praia quando notei que começava a queimar o couro cabeludo; era a calvície que chegara. 
Esperar o quê? Se meu pai tinha só o "Paralama do Sucesso" bem antes dos vinte e sete anos. Cumpriu-se a genética mais uma vez.

E assim caminhei até os quarenta e cinco anos, quando o excesso de peso chegou ao limite e me vi obrigado a fazer a bariátrica. Devo dizer que após a cirurgia experimentei um dos melhores sentimentos de bem estar da minha vida. Perdi sessenta e três quilos, fiquei fininho como me prometerá o doutor Sena. Com isso passei a praticar exercícios físicos com frequência e embora tenha ganho um pouco de peso novamente, não voltei a ser um obeso mórbido e me sinto muito bem correndo ou pedalando várias vezes por semana.

Passado os cincoenta anos, beirando os sessenta, assim como todo mundo, deixo de ser bonito e passo a ser charmoso. Nessa fase ninguém se preocupa mais com a beleza, apenas com a qualidade de vida. E com isso me preocupo muito, pra ser bem direto, quero ter a sobrevida da minha mãe que chegou aos noventa e dois anos com saúde e independência.
Ainda vou incomodar muita gente. Assim espero para meu deleite e desesperos dos próximos.

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