Deus! Salvai-nos da gourmetização

Domingo acordei e cedo e fui atrás do meu tradicional pastel de feira. Pego a moto e vou até a feira da praça 29 de março aonde tem uma japonesa que faz um pastel top. Chegando lá, dei de cara com um novo trailer vendendo pasteis. Pensei em quanto eu sou tradicionalista e resolvi provar o pastel do novo fornecedor; resolvi trair a japa.

Segue o aconteceu. Fiz meu pedido para a atendente que estava impecavelmente uniformizada, anotou numa comanda o que solicitei, passou a comanda para a cozinheira também impecavelmente vestida de branco com luvas e touca e me deu um canhoto no qual constava meu número de pedido. Como era muito cedo tomei assento numa cadeira de plástico colocada numa área como se fosse uma praça de alimentação a céu aberto.

Após alguns minutos meu número de comanda é chamado e vem até minha mesa uma garçonete impecavelmente vestida de branco e luvas plásticas. Numa bandeja plástica grau alimentar branca forrada com papel absorvente estava deitado meu pastel de carne. A média veio num copinho plástico com tampa, com colher plástica selada em papel e os saches de açúcar. O molho vinagrete dentro de um pote plástico de sobremesa também tampado.

Não vou negar, o pastel estava perfeito, nada por reclamar, a qualidade, o atendimento, o serviço; mas quer saber: Tudo estava errado, completamente fora de contexto. A danada da gourmetização chegou à pastelaria de feira. Pastel de feira para ser raiz tem que ter aperto na hora de fazer o pedido, tem que tropeçar no carrinho de feira da tia. O atendente tem que ter camisa do Corinthians embaixo do jaleco. Tem que ter aquele pratinho de alumínio mais amassado que calota de fusca. Tem que ter aquele guardanapo fininho que não detém a gordura e tem que ter aquele molhinho vinagrete servido em copo descartável de cafezinho. Além do mais não precisa mesa e cadeira porque comemos em pé mesmo, e se quisermos sentar sentamos no meio fio.

Deus! Salve-nos da gourmetização. Amém