Quando eu lembro da minha casa da praia, eu faço baseado em sensações. Do cheiro que toda casa de praia tem. Do meu saudoso Mané caseiro debruçado na janela tomando um café e conversando. Dos gritos dos filhos brincando com os amigos na calçada, do barulho do motor da scooter passando em frente à rua.
Eu lembro, dos finais de tarde de verão em que colocava minha cadeira na calçada e ficava contemplando o anoitecer enquanto algum visinho vinha conversar até que o cheiro do jantar da Nona exacerbasse a casa e realizava o agradável convite. Eu lembro da areia fria na sola do pé quando saía para caminhar, do cheiro do pão fresco que acompanhava o café.
Lembro também do cheiro da carne que assava na churrasqueira enquanto os amigos sentavam para conversar. A cerveja com limão e sal, inesquecível. Eu lembro da folhinha atrás da porta da cozinha aonde marcava cada final de semana que passava lá, e teve um ano que das cincoenta e duas semanas cincoenta delas passei na minha de praia. Das tardes de inverno dormindo na rede enrolado em cobertor.
Lembro da estranha sensação de subir a serra pouco depois da meia noite para acompanhar o enterro de meu cunhado, curiosamente aquela noite estava tão linda, estrelada. Recordo dos lanches da Nona no longo trajeto Curitiba – litoral. Água, biscoito, queijinho e chocolate, como se fossemos atravessar o atlântico de primeira classe o lanche só era servido quando passávamos em frente à fábrica da Coca-Cola na ida e na volta depois do posto de polícia rodoviária.
O som do meu receptor de rádio amador, ouvindo Dudu, o solitário radioamador que morava no meio do nada e me acompanhava no trajeto com sua voz “toni troante”, voz de trovão. Lembro da ansiedade minha e das crianças em levar algum novo brinquedo para usar na praia. Setra, pipa, bola, bicicleta, moto e tantas outras traquitanas. Quando lembro de minha casa de praia, lembro de mim, de um tempo que não volta mais.
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