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terça-feira, 10 de maio de 2011

Os carros de Don Carmine

Sou do tempo em que todos os anos a indústria automobilística lançava seus novos modelos e como consumidores sabíamos exatamente a diferença entre um modelo zero quilometro e um usado. Portanto era realmente um símbolo de status ter um carro do ano.


Desafio qualquer um de vocês a me dizerem quais são os modelos do ano que circulam pelas nossas ruas. Alias desafio também a falar quais são as marcas de carros disponíveis no mercado atualmente. Até a década de setenta dividiam o mercado apenas, Ford, GM e Volks, em seguida apareceu a Fiat. Hoje temos além das tradicionais as marcas coreanas, japonesas, indianas, espanhola, até carro russo já circularam por aqui. Lembram do Lada?


De certa maneira ficou melhor, não só pela gama de opções, mas principalmente pelo desapego que este turbilhão gerou no processo de consumo de veículos em nosso país. Esta muito fácil ter o seu carro zero, você pode financiá-lo em parcelas a perder de vista.


O papel do carro na família brasileira mudou, meu pai não deixava de lavar seu carro semanalmente, não com um pano qualquer, mas com camurça, aquele couro de uma espécie de lontra o que hoje é uma atitude totalmente antiecológica. Ele e seus DKW, esta marca era uma marca alemã, depois comprada pela Volks, tinha um motor que funcionava a dois tempos, com um ruído todo característico, cansamos de viajar a São Paulo com ele, imaginem o que era a aventura. A cada ano ele trocava de DKW, um verde, outro azul, outro bege e assim mantinha-se meu velho todo garboso dentro da sua “machina” que é como o italiano chama carro.


Seu sonho contudo era uma Alfa Romeo, no Brasil chamava-se JK, em homenagem ao presidente Juscelino Kubitschek. Um belo dia ele foi até a Irmãos Gulin, lá na Avenida Erasto Gaertener, e de lá saiu como seu JK azul novinho em folha placa amarela AA-1969. Um sonho realizado, estávamos em 1968. E era um carrão mesmo, o velocímetro marcava a velocidade numa coluna de mercúrio, os bancos revestidos em couro e um motorzão. Meu pai realizou seu sonho, pode curti-lo pouco contudo, morreu em agosto do mesmo ano e o JK ficou por anos estacionado na garagem até que resolvemos vende-lo. Estava com quatro mil quilômetros rodados.

Eu já não tenho o mesmo apego aos carros que meu pai teve, e creio que daqui para frente os carros significarão cada vez menos para as pessoas pois os agentes financeiros estão transformando os carros em bens de consumo voláteis, não esta longe o dia em que não se comercializarão mais veículos usados, os mesmos serão vendidos pelo seu peso em materiais para reciclagem e o dono quem sabe levará um crédito para a troca por um modelo mais novo assim como já fazemos com outros eletrodomésticos. Quem viver verá.

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