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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

As melhores dos últimos sessenta anos. “Por uma causa justa”

Em 2004 eu, meu amigo e compadre Luiz Perci e meu filho fomos ter um final de semana em São Paulo. Nosso programa era visitar o salão do automóvel, assistir uma partida de futebol e no domingo assistir o GP de fórmula de um para depois retornarmos para casa. Podemos dizer, sem medo do politicamente correto, um verdadeiro programa de macho. 

Nossa empreitada começou bem. Fomos no carro do Perci, um Tempra Ouro, turbo; um verdadeiro foguete. Logo no caminho de ida, próximo de Registro, numa reta, meu compadre resolveu mostrar um pouco da potência do carrão. O que não contávamos é que no final da reta havia um policial com radar amocado e nos pegou quase na velocidade de um F-1. Multa.

Começamos bem. Mas, o final de semana era para ser de alegria, então seguimos caminho com a mesma animação. Já em São Paulo as coisas correram muito bem. Nosso roteiro aconteceu como havíamos programado. Tudo perfeito, regado à cerveja e boas risadas no almoço, no Anhambi e no campo.
Contudo, nossa maior expectativa era ver ao vivo a corrida de fórmula um no domingo.

Acomodados no hotel, nosso objetivo era jantar por perto e depois dormir para no domingo acordar cedo e partir para Interlagos. Foi-nos indicada uma churrascaria muito próxima ao hotel, tanto que fomos jantar caminhando.

Na churrascaria, comemorando nosso sucesso em Sampa, além da carne vieram as cervejas. Terminado o jantar fizemos o pedido para encerrar a conta. Nesse momento meu compadre, do alto de seus quase um metro e noventa, notou uma promoção anunciada no restaurante. Dizia mais ou menos assim: “Casal no jantar tem desconto de 50% para acompanhante”.

Assim quando o garçom nos trouxe a conta, ele a conferiu e com ar sóbrio discordou do valor. O garçom quis saber qual era a dúvida e ele saiu-se assim: “Meu amigo, tem ali um cartaz dando desconto para casais. Não especifica que tipo de casal”, isso ele falou apontando para mim.
O garçom não entendeu como brincadeira e foi rápido falar com o gerente. Encurtando a estória. Ganhamos um belo desconto na churrascaria.
O que não fazemos por um bom desconto?
A única coisa que não aceitei foi sair de mãos dadas com ele.
Aí seria demais.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

As melhores estórias dos últimos sessenta anos. "A rainha da festa"


Na década de setenta as pessoas comemoravam aniversário em casa. Nada de baladas e botecos; as festas eram na garage mesmo. Eu na minha turma de amigos nunca fui daquele de arrancar suspiros das moças, mas dava minhas cacetadas, ou seja, volta e meia pingava uma sereia na minha rede.

Certa vez fui a uma festa de aniversário de uma moça da qual os convidados foram meus primos, eu era desta forma o famoso peru de festa. Se bem me lembro o níver rolava numa casa no Jardim das Américas. Já devidamente acomodado num canto da casa enquanto tocavam sucessos da geração dance eis que passa por mim uma linda garota. Trazia nas mãos um prato, olhou para mim e disse alguma coisa que não consegui decifrar.

Olhou pra mim!
Se olhou é porque queria me conhecer. Fiquei todo animado, afinal ela era muito bonita mesmo.
Esperei a troca de ritmos, saiu dance, entrou música lenta.
Mirei a menina; enchi o peito de coragem e fui tirá-la para dançar.
Aceitou.
Então, ao som de She´s my girl, Rock roll Lulluby fui chegando, apertando, encaixando meu rosto naquele pescoço lindo.

Olhinhos fechados, tudo colado (eu disse tudo mesmo). Estávamos viajando na paixão (Ou seria outra coisa?); bem, tirem suas conclusões.

Nos raros momentos de lucidez, abria os olhos e via todos ao redor admirando a cena; olhares surpresos, invejosos. Eu estava abafando. Sim! Aquela seria a minha noite. Me dei bem.
Determinado momento ela meio que se afasta de mim e pede para pararmos de dançar. Estando tudo tão bom. O que será havia acontecido?
Perguntei e ela sem graça me respondeu.
A patroa está me chamando para servir os doces.

Naquele momento tudo fazia sentido. Ela passou me oferecendo salgados e o tonto pensou que ela tinha dito algo. Eu e minha testosterona fomos traídos pela beleza da moça funcionária da casa. Depois, passada a zoação e alguns copos de Cuba vi que realmente ela era muito mais bonita que a aniversariante. A verdadeira rainha da festa.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

As melhores estórias dos últimos sessenta anos.“Simplesmente as rosas não falam, mas voam”

No final da década de setenta, perto dos dezoito anos, como todo jovem meu sonho era poder dirigir. Curitiba não tinha tanta fiscalização e era normal que antes dos dezoito anos alguns mancebos já portassem os carros de seus pais.

Na cidade começavam a circular as motocicletas do batalhão de trânsito, a quem carinhosamente chamávamos de “franguinhos da sadia” pela similaridade com uma propaganda da época.

Minha mãe, rigorosa, recusava-se a liberar as chaves do fusca para que eu pudesse dar meu roles pela cidade. O que fez o adolescente Renato então?
Fiz uma cópia da chave pra mim.
Sim! Eu, às escondidas, subtraia o carro da minha mãe para poder dar minhas bandas. (Subtraia, uma maneira eufemística para roubar).

Façam ideia da insanidade da ação, pegava o carro para ir à boatinha do Juventus, clube que ficava a incríveis dois quarteirões de casa. Lá chegando, estacionava o fuscão bem à mostra, colocava o chaveiro no bolso deixando à mostra a chave para chamar a atenção da galera. (Que autoafirmação idiota).

Enfim, numa dessas noites agradáveis estava eu no clube quando fui chamado por um segurança me perguntando se me chamava Renato. Confirmei.
Ele me disse que lá fora tinha uma pessoa querendo falar comigo. Quando olhei porta a fora vi no fim de um longo corredor a figura de minha mãe. Vestida com seu roupão e pantufas trazia na mão um portentoso cassetete feito de um pé de cadeira.

Numa atitude máscula, entreguei a chave do carro para o segurança e dei o recado que depois conversaria com ela e fui dormir na casa de minha irmã.
Como domingo era dia de trabalhar no restaurante da família, antes de ir pro trabalho comprei um buquê de rosas com o objetivo de apaziguar a situação.
Eu cuidava do atendimento no balcão e minha mãe coordenava a cozinha. Então, deixei para chegar no momento em que já tivesse algum cliente pois assim a reação dela seria mais serena. E assim fiz.
De nada adiantou minha atitude resignada e apaziguadora. Naquele momento descobri que as rosas não falam, mas voam.

sábado, 14 de dezembro de 2019

As melhores estórias dos últimos sessenta anos. "Vida de Athleticano"

Costumo desligar meu celular à noite. Em minha concepção, notícias boas ou ruins podem esperar o amanhecer do dia para serem dadas. Por conta desse meu costume a dona Kátia quase me mata, fazer o quê? Costume de velho, ela diz.

Em 2017 minha nora estava grávida, aguardávamos o nascimento de meu neto Matheus. Eis que ao ligar o celular naquele amanhecer quando acordei, havia uma série de recados deixados por meu filho dizendo que estava indo para a maternidade pois havia chegado o momento do nascimento e deveríamos estar juntos na maternidade. A primeira coisa que fiz foi ligar para ele, e claro que naquela hora Matheus já havia vindo ao mundo. Eu nada mais poderia fazer que desse suporte à situação.

Tomado da emoção por ter me tornado “Nono” e possuidor da minha peculiar calma em momentos críticos, tomei um banho e me arrumei para o encontro na maternidade. Peguei o carro e antes de tomar rumo fiz uma escala importante no caminho. Parei na Arena; entrei na loja que acabara de abrir e comprei uma camiseta personalizada para o athleticano que havia recém nascido; Matheus.

E assim segui meu caminho até o Santa Brígida. Lá chegando encontro toda família que numa mistura de bronca e bom humor me criticavam, dizendo coisas como: “Mais um pouco chega pro aniversário de um ano”, ou ainda: “Costume de velho desligar o celular pra dormir”. Não importava o conteúdo sutil e maldoso dos comentários. O que importava era que na minha família havia mais um torcedor do Club Athletico Paranaense. E olha que o piá nasceu pé quente, mas isso é assunto pra outra estória

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

As melhores estórias dos últimos sessenta anos. "O dia em matei a Rosana"

Tem uns quatro anos comecei a receber ligações em meu celular procurando por uma tal Rosana. Esta pessoa, presumo uma senhora de idade, começou a passar o meu número de celular para todos seus parentes e conhecidos.

Minha vida virou um inferno, recebia ligações sem fim de pessoas querendo falar com a Rosana. Primeiro passei a informar que o número não pertencia a ela. Depois, tamanha a quantidade de chamadas, comecei a pedir às pessoas que informassem a tal Rosana que ela informasse seu número corretamente. Não adiantou.

Numa sexta feira cabulosa, estava de saco cheio com a situação, resolvi dar solução ao problema. Em plena avenida Silva Jardim recebi uma ligação procurando por ela. Parei o carro, atendi e disse: "Aqui o cabo Renato do Corpo de Bombeiros. A Sra. Rosana acaba de falecer atropelada por um bi articulado. Favor procurar o corpo no IML".

Não demorou muito comecei a receber ligações de alguns parentes e amigos desesperados querendo informações do ocorrido. Por fim; a um senhor que atônito identificou-se como seu cunhado, contei a verdade. E pedi que ela passasse a informar o número correto do seu celular pois do contrário continuaria sendo morta e atropelada por um bi articulado.

Acreditem. Nunca mais alguém procurou por ela. Fico até pensando... Será que a Rosana morreu atropelada por um bi articulado?

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Segredos de mim

Trago dentro de mim alguns segredos a meu respeito. Segredos mesmo; daqueles que ninguém jamais soube e nem saberá. Alguns bons demais, outros nem tanto.

Dizem respeito às minhas experiências de vida, minhas atitudes e meus sentimentos. São memórias que flutuam na minha memória e quando, volta e meia, vem à tona arrancam sorrisos de agradáveis memórias ou uma angústia desagradável de vergonha. 

Ninguém jamais saberá nada a respeito desse ser que realmente habita em mim. Nem melhor amigo, namorada, padre, psicoanalista, terapeuta; se quiser saber; nem Deus saberá. Essa consciência cabe somente dentro de mim e quem pensa que me conhece poderá estar caindo num tremendo engano.

Não é o "eu" que  queria ser, nem o "eu" que você vê. É o "eu" que realmente sou. Sou eu na essência, que só eu conheço e ninguém mais.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Brasil, sil, sil, sil....

Minha diarista já trabalha comigo faz cinco anos. E toda quinta feira, quando vem, traz uma estória nova de sua vida, dos eu cotidiano. É uma mulher de vida sofrida com inúmeros problemas e que faz muito para manter os filhos dando-lhes um padrão muito bom.
Na ultima passada aqui em casa veio com a seguinte estória:

Sua filha, que já é casada, comprou junto com o marido um carro tempos atrás. Junto com o automóvel veio um carnê de trocentas prestações a perder de vista pois de outra forma não poderia compra-lo. Um carro trás consigo uma série de outras despesas que as pessoas não contabilizam na hora de assinar os papéis do financiamento. Dentre eles estão os impostos anuais para poder circular com o veículo.

Semana passada, sua filha foi parada numa blitz e por estar o carro com três anos sem pagar o IPVA e seguro obrigatório foi recolhido ao pátio do Detran. Para retirá-lo deveria pagar os atrasados que somavam mais de três mil reais.

Tentaram arrecadar a soma em família, porém, como todos já se encontram em estado ruim financeiramente não puderam ajudar. Ficando a solução da seguinte forma:
Empenharam o salário do casal recebido no mês; fizeram um empréstimo junto a uma vizinha e, pasmem, acreditem se quiser, venderam a geladeira de casa para totalizar o valor.

Essa a índole do povo brasileiro que deixa de lado uma geladeira para por um carro na garage. Que corre o risco de alimentar seus filhos com comida estragada mas não perde a pose. Brasil sil sil sil.