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segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Virando a página

 Eu e minha estranha maneira de acreditar que as casas guardam recordações das pessoas. Hoje estou vivendo um dos dias mais tristes de que tenho lembrança.

Vendi minha casa de praia.

Os que não veem as coisas como eu dirão. “Idiota, chorar por um patrimônio que só te traz despesas numa praia sem estrutura”. Pegarei o dinheiro e investirei em outro imóvel, alguma coisa que me de retorno financeiro no ultimo terço de minha existência e talvez um dia esteja apegado a ele com a mesma intensidade, sei lá.

Não será a mesma coisa. Minha casinha na praia como chamávamos foi um sonho de família, um sonho sonhado por várias pessoas. Refúgio de incontáveis finais de semana da década de noventa. Reduto onde muita coisa importante de nossa vida aconteceu.

Onde os filhos cresceram, onde conheci e convivi com gente especial, meus amigos, onde relaxei na pescaria ou fazendo coisas bobas, mesmo porque o mar e o clima não te exigem demasiado envolvimento nas coisas que fazemos.

Nunca me esquecerei do nosso caseiro “Mané” que aguardava com sua resenha semanal e um bom café. Nunca me esquecerei do Dudu, radioamador que nos acompanhava enquanto trafegávamos pela rodovia. Nem do João Ribeiro, meu amigo cocho, que tinha tanto carinho por mim.

Nunca me esquecerei das noitadas de videokê, naquelas em que a vizinhança aparecia para dar seu show e do Mike Tyson, guardião da churrasqueira a esperar por um pedaço de carne.

Nunca me esquecerei do café matinal com pão fresquinho da Fabiúla ou da  minha mãe gritando que o macarrão esta na mesa na hora das refeições.

Nunca vou me esquecer de que quando me separei fiquei mais de ano sem ir para lá, com medo de ter lembranças dela. Ao virar esta página em minha vida sinto que só agora estou realmente separado. Porque as casas guardam lembranças; acreditem.