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quinta-feira, 29 de maio de 2014

O derradeiro beijo

Enquanto retornava de viagem hoje vinha pensando na vida. Nas alegrias, nas tristezas, nas decepções e surpresas. Lembrei-me dos últimos dias de mamãe.
Já dei muitos beijos na vida. Beijos de afeto, de amizade, de paixão e de agradecimento, mas nenhum me marcou tanto como o derradeiro beijo dei em minha mãe quando estava em seu leito de morte. Foi o ultimo de tantos que dei ao longo de toda sua vida. Nunca fui uma pessoa contida, sou emotivo e gosto de demonstrar meus sentimentos.  
É estranho lembrar isto agora, justifica-se a atitude, pois sempre fui afastado destes ritos de morte como velórios e enterros. Lembro que emocionado pela perda tinha seu corpo a minha frente solene e sereno como se dormisse a sua soneca tradicional de depois do almoço. Aproximava-se a hora da real despedida física. Fecharíamos o caixão e a levaríamos para o túmulo.
Tomado de emoção e ciente de que depois desta oportunidade não a tocaria mais, aproximei-me e beije-lhe a fronte, um beijo de adeus, mas também um beijo de respeito e agradecimento.

Já dei muitos beijos nas suas várias formas em pessoas que não o fizeram por merecer. Amigos, parentes, enfim pessoas que me decepcionei porque de alguma maneira me iludi em demonstrar demasiado afeto. Posso dizer que aquele foi o beijo mais importante da minha vida. Beijo qual nunca me arrependerei de ter dado. Havia selado ali a passagem da minha mãe para o mundo dos mortos e até quando nos encontrarmos novamente ficarei com a lembrança daquele beijo.

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